quarta-feira, 18 de março de 2009

Ferrovia de trilhos oblíquos


* ONOFRE RIBEIRO é articulista deste jornal e da Revista RDM

Assisti ao encontro do Fórum Pró-Ferrovia, na Fiemt, em Cuiabá, na última segunda-feira. Antes, para que o leitor entenda, vamos a um pouco da história da ferrovia. Na década de 70, o deputado federal por Mato Grosso, Vicente Vuolo, usou todo o seu mandato defendendo a extensão da ferrovia de São Paulo a Cuiabá, partindo da cidade paulista de Rubinéia. Conseguiu a inclusão no Projeto Nacional Viação. Eleito senador em 1978, lutou o mandato inteiro pela mesma causa. O projeto completo é de 5 mil quilômetros e pretende ir além de Cuiabá, até Santarém, no Pará, e Porto Velho, em Rondônia. O projeto saiu das mãos do empresário Olacyr de Moraes e caiu nas mãos da empresa Ferronorte, mediante concessão para a construção e operação por 90 anos. Mas não foi além da grande ponte sobre o rio Paraná, entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, e, finalmente, à chegada dos trilhos a Alto Taquari e depois a Alto Araguaia, em Mato Grosso. Passou às mãos da América Latina Logística – ALL, empresa que opera quase todas as ferrovias sul-americanas. O Fórum Pró-Ferrovia é presidido pelo vereador cuiabano Francisco Vuolo, filho do senador Vicente Vuolo. O encontro começou tenso e depois descambou para a dura realidade sobre o futuro da ferrovia. Os primeiros questionamentos no encontro foram genéricos, mas caíram na discussão de alguns pontos. O primeiro, apresentado pela representante da ALL, foi o de que o compromisso firmado no Ministério dos Transportes há dois anos de que a ferrovia chegaria a Rondonópolis no segundo semestre de 2010, não se deve à empresa. O problema é a licença ambiental que o Ibama exigiu revisões. O governador Blairo Maggi fez duas anotações durante o encontro: 1 – é preciso que a bancada federal, governador, empresários de Mato Grosso, e a ALL, se reúnam em Brasília com o presidente do Ibama para forçar o andamento da licença ambiental para o trecho Alto Araguaia-Rondonópolis, sem o qual a ferrovia não anda; 2 – o trecho entre Rondonópolis e Cuiabá dificilmente sairá, porque um estudo de viabilidade econômica dificilmente recomendaria, disse o governador. Nesse caso, a solução seria arranjar uma situação em que o governo federal financiasse o trecho e depois o entregasse à concessão privada, como será o caso da ferrovia Norte Sul, entre Tocantins e Goiás. No mais, o fórum conseguiu de concreto, reunir lideranças políticas, empresariais e institucionais em torno da idéia da ferrovia que, aliás, é um sonho que data do fim do século 19, quando a ferrovia entre Bauru (SP) e Corumbá (MS), teve seu trajeto original mudado. Ela previa que a ferrovia entrasse em Mato Grosso e chegasse a Cuiabá. Mas a percepção depois da guerra com o Paraguai revelou a fronteira Oeste do estado completamente desguarnecida. E o acordo de compra da área do atual estado do Acre, da Bolívia, incluiu no tratado a extensão da ferrovia até Santa Cruz de La Sierra, em território boliviano. Com isso, Cuiabá ficou a ver navios, e o desvio acirrou os maus ânimos entre Cuiabá e Campo Grande que durariam até a divisão do estado em 1977. Mas isso é outra história. O fato é que a ferrovia ainda continuará sendo discutida.

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