MARIANNA PERES
Da Editoria - Diário de Cuiabá
As exportações mato-grossenses registrarão um novo marco a partir de amanhã. Pela primeira vez cortes congelados de carne sairão do interior do Estado utilizando os trilhos da ferrovia senador Vicente Vuolo, antiga Ferronorte.
O carregamento de 28 conteinêres ‘reefer’ refrigerados com carne de frango deixa a planta da Sadia em Lucas do Rio Verde, médio norte mato-grossense, com destino ao porto de Santos. As cargas que seguiam 100% por caminhões e em geral tinham como destino o porto de Itajaí, Santa Catarina, ganham nova rota e finalmente, logística. O modal misto ‘inaugurado’ pela Sadia é o início de uma nova logística. Mato Grosso deixa de escoar apenas grãos pelos trilhos e passa a embarcar produtos industrializados, que neste primeiro momento, dá espaço aos contêineres refrigerados. “O objetivo é ampliar o mix de produtos, desde congelados a outros industrializados”, informa o assessor econômico da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), Carlos Vitor Timo Ribeiro. E completa: “Não há dúvidas de que esse primeiro embarque é um marco para logística estadual e como sempre estamos dizendo, o Mato Grosso vive sua segunda fase no processo de industrialização, transformando a proteína vegetal – os grãos – em proteína animal, por meio das exportações de carnes”.
O novo modal está sendo possível após a implantação, por parte da concessionária dos trilhos, a América Latina Logística (ALL), do primeiro terminal de contêineres no Centro Oeste, edificado em Alto Taquari (479 quilômetros ao sul de Cuiabá) que permite a movimentação ferroviária inédita de frigorificados rumo ao porto de Santos. O terminal Intermodal de Contêineres de Alto Taquari recebeu R$ 35 milhões em investimentos, fruto de parceria entre a ALL e a Standard Logística. Os primeiros 28 contêineres refrigerados são estufados na planta da Sadia, em Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá), de onde seguem por caminhão até o terminal, em uma operação intermodal integrada. “Estamos lançando um modal concorrencial, capaz de reduzir o custo do frete entre 10% e 20%. Calculamos que chegaremos rapidamente a 2 mil contêineres”, afirma o presidente da Standard Logística, José Luis Demeterco Neto. Como observa Timo Ribeiro, os investimentos da ALL e da Standart, “provam que existe mercado rentável para este tipo de serviço em Mato Grosso”. SADIA – Os detalhes do embarque dos cortes não puderam ser prestados pela Sadia, em função do período pós fusão com a Perdigão. Como informou a assessoria da Sadia, em São Paulo, a nova empresa que surge desta união, a Brasil Foods, está na iminência de lançar ações no mercado, entre o final deste mês e início de agosto e por isso, o “momento é de silêncio”.
LOGÍSTICA - Com capacidade para movimentação de contêineres frigorificados e cargas secas, como algodão e couro, a estrutura possibilita, pela primeira vez, a movimentação ferroviária de contêineres do Centro-Oeste em direção ao maior porto do país. A estimativa é de quem nos primeiros três meses, o terminal atingirá um volume total de 600 contêineres/mês, podendo chegar a 3 mil contêineres/mês nos próximos anos.
Na semana passada, os 28 contêineres deixaram o porto de Santos em direção a Alto Taquari. A operação é considerada de modal misto, já que a carga segue cerca de 200 quilômetros de Lucas do Rio Verde até Alto Taquari de caminhão, modal rodoviário, até ser embarcada em vagões da ferrovia. A partir deste trecho, seguirá 900 quilômetros até Santos (SP). “Em um ano, o terminal de Alto Taquari será o maior da ALL no segmento de contêineres. A movimentação é uma das que mais crescem no setor industrial, com aumento de 26% no ano passado e crescimento previsto de 150% em 2009”, afirma o diretor de Industrializados da ALL, Sergio Nahuz. Somente este novo terminal responderá por 40% do volume total de contêineres. Atualmente, a companhia opera contêineres para os portos de Paranaguá, São Francisco e Rio Grande. Com a nova estrutura, as cargas originadas no Centro-Oeste, serão armazenadas e receberão reforço de frio no terminal de Alto Taquari, de onde seguem para Santos. Atualmente, a ALL é uma das maiores operadoras de contêineres da América Latina, com volume previsto em mais de 120 mil TEUs para 2009. O presidente em exercício da Fiemt, Jandir Milan, explica que enquanto a ferrovia não completa seu projeto original, chegando até Cuiabá, o modal misto - parte da carga transportada via rodovia e parte via estrada de ferro -, será sempre uma opção compatível quando o ponto de partida estiver a cerca de 400 quilômetros dos trilhos. “Nesta distância, há viabilidade e ganhos para o produtor, exportador e ou industrial”.
REFORÇO - Para suportar o crescimento de cargas conteinerizadas, a ALL reformará, até agosto, mais 400 vagões plataforma. “Também estão em estudo terminais em Cruz Alta (RS), Telêmaco Borba (PR), Ponta Grossa (PR) e Araraquara (SP), que dobrarão os pontos de carregamento em relação ao ano passado”, completa Nahuz. “Tradicionalmente, as ferrovias brasileiras tinham foco em commodities e minério. A ALL já vem, nos últimos anos, ampliando seu mix de produtos transportados pela ferrovia”, revela Nahuz.
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