domingo, 7 de março de 2010

Morre o engenheiro Domingos Iglesias


NATACHA WOGEL

Da Reportagem - Diário de Cuiabá

Aos 83 anos de idade, morreu na madrugada de ontem o engenheiro civil Domingos Iglesias Valério, homem que respondeu por 31 anos pela Defesa Civil do Estado e que detém um dos principais currículos que já compuseram a história de infra-estrutura mato-grossense. A causa da morte ainda é desconhecida, porém, conforme a jornalista Laura Lucena, que já escreveu 190 páginas de sua biografia, o engenheiro morreu sentado, após passar mal, à 1h30, na cidade mineira de Rio Acima, próximo ao local de seu nascimento, o município de Pitangui, oeste do estado. Iglesias sofria de hipertensão.

Em Mato Grosso, Domingos Iglesias chegou no ano de 1958, depois de já ter participado da construção da cidade de Boa Vista, Roraima, a pedido do presidente Getúlio Vargas, de quem era amigo. Ele assumiu a Divisão de Obras da capital. “Na época em que se formou engenheiro civil, a pedido de Getúlio Vargas, que queria povoar as fronteiras brasileiras, foi para Roraima, quando ainda se chamava Território Federal de Rio Branco e construiu diversas obras na cidade, entre elas o aeroporto local”, conta a jornalista.

A amizade com Getúlio surgiu da liderança estudantil que fazia no estado do Paraná, onde cursou a faculdade na Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal. “Ele desistiu da militância política com a morte de Getúlio. Se desencantou com a área”, diz Laura.

Quando chegou ao Estado, para assumir a Diretoria do Departamento de Terras, foi professor do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Mato Grosso, onde respondeu pela cadeira de hidráulica durante anos. Ele se aposentou pela UFMT, assim como pela Defesa Civil de Mato Grosso, porém, no órgão estadual, mesmo aposentado manteve-se trabalhando. Foi sucedido por seu filho de mesmo nome no cargo. O engenheiro deixou a Defesa em 2005.

Iglesias era doutor em Portos do Mar, Rio e Canais, além de Arquitetura, Urbanismo e Traçado de Cidades. Mas seu principal destaque era o desempenho na área de Recursos Hídricos. “Ele é reconhecido nacionalmente como uma das maiores autoridades no assunto”, destaca a escritora.

A dedicação ao conhecimento, sobretudo do regime de águas dos rios, foi uma marca da trajetória profissional do engenheiro. “Ele tinha um profundo conhecimento sobre o regime do rio Cuiabá, conseguia fazer previsão de enchentes. Fora isso, sabia muita coisa sobre os efeitos astronômicos, o que colaborava de mais para o trabalho dele”, comenta o jornalista e secretário-adjunto estadual de Comunicação, Onofre Ribeiro, que passou a conviver com Iglesias a partir de 1976, ao trabalhar no governo do Estado, quando o engenheiro já era chefe da Defesa Civil.

A paciência com os jornalistas, porém, não era o forte de Domingos Iglesias. “Ele construía o raciocínio de forma muito completa e complexa. Portanto, detestava ser interrompido e ouvir perguntas pouco inteligentes. Reagia com impaciência”, completa Ribeiro.

Outra área em que teve destaque no Estado foi na concepção da ferrovia e dos traçados de Mato Grosso. “Ele seguramente era a pessoa que mais conhecia a discussão sobre a ferrovia. E ficava danado com as adaptações propostas para os trechos, pois conhecia como ninguém o assunto”, finaliza o jornalista.

Domingo Iglesias deixa a esposa Norma, os filhos Domingos, Alda Elizabeth, Norma e Ricardo, este último, portador de necessidades especiais, motivo que fez o engenheiro fundar em Cuiabá a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). A instituição emitiu uma nota de pesar pela morte de seu fundador. “Estamos em luto pela perda do nosso Grande Pai Fundador, que por toda sua vida se dedicou de corpo e alma na luta por uma vida melhor às pessoas com Deficiência Intelectual e Múltipla”, traz o texto.

O sepultamento do engenheiro acontece em Cuiabá, onde mora sua família, porém, até o fechamento desta edição, familiares não confirmavam a data, tendo em vista que dependia da liberação e o embarque do corpo para o Estado.

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